Vivemos na era das redes sociais e do produto instantâneo, algo que possamos consumir em segundos e seguir para o próximo produto. Em algumas situações, nem perdemos tempo a ler as descrições. E blogs perderam o seu destaque para novas formas de partilha (e para o vídeo, que tenho vindo a explorar mais nos últimos tempos). No centro de todas estas alterações a fotografia acabou por se tornar uma linguagem universal. E, no mundo da fotografia, a vida selvagem é uma categoria que cativa e inspira milhões de pessoas em todo o mundo. Ter oportunidade de fotografar a beleza dos animais no seu habitat natural é um talento único e fascinante, mas também uma forma de educar e sensibilizar para a importância da conservação da natureza. No entanto, muitos fotógrafos de vida selvagem enfrentam um dilema ético quando se trata de vender suas fotografias de vida selvagem.
HOBBY OU PROFISSÃO
É fundamental reconhecer que a fotografia de vida selvagem é mais do que uma simples paixão ou um hobby; é um trabalho árduo que exige habilidade, paciência e dedicação. Algo que discuti no meu post anterior, 'Quanto custa realmente tirar uma fotografia de vida selvagem? Uma análise detalhada', onde procurei mostrar quanto gasto para tirar fotografias. Passo imensas horas no campo, por vezes, em condições desafiadoras para conseguir aquela fotografia perfeita. Tenho de acordar antes do amanhecer, ou com as galinhas, e por vezes tenho de enfrentar clima adverso para conseguir determinadas fotografias. Como tal tenho de investir tempo e recursos para conseguir ter alguns resultados. E quando este estilo de vida nos ocupa grande parte dos dias, deixa de ser apenas um hobby e passa a ser uma profissão.
DESVALORIZAÇÃO DA INDÚSTRIA
Infelizmente, em alguns casos, os fotógrafos acabam por ser tentados a partilhar as suas fotografias gratuitamente, na maioria das vezes fazem-no para terem reconhecimento social, e noutros casos mais extremos simplesmente para aumentar os seus próprios egos. No entanto, devem compreender que esta prática não só desvaloriza o trabalho do próprio fotógrafo, como também desvaloriza a indústria da fotografia de vida selvagem como um todo. A fotografia escolhida pode não ser a melhor do mercado, mas sim a fotografia do fotógrafo que aceitou não receber o devido pagamento pela utilização da sua fotografia. Ao oferecerem as suas fotografias de vida selvagem gratuitamente, os fotógrafos, inadvertidamente, estão a contribuir para a desvalorização da sua própria arte. O que numa arte em que o material necessário é bastante elevado, apenas vai levar a uma série de problemas. Isto cria uma expectativa de que fotografias de alta qualidade devem estar disponíveis gratuitamente, minando assim o valor do trabalho dos profissionais. O que olhando para a situação financeira atual de Portugal, pode deixar os poucos fotógrafos de vida selvagem que fotografam em Portugal a ter dificuldades em sustentar a sua paixão a longo prazo, pela falta de compensação financeira pelo seu trabalho. E isto acaba por limitar a capacidade destes fotógrafos em continuarem a tirar fotografias impressionantes.
EXPLORAÇÃO COMERCIAL
Outro aspeto a ter em conta ao oferecer fotografias de vida selvagem gratuitamente para as empresas, é que os fotógrafos acabam a contribuir para a exploração da natureza e da vida selvagem em benefício comercial. Muitas empresas acabam por lucrar com a beleza das nossas fotografias de vida selvagem nas suas campanhas publicitárias, em materiais de marketing ou na venda de produtos e serviços, isto tudo sem contribuir adequadamente para a conservação ou proteção dos habitats naturais. Vender as fotografias permite que os fotógrafos valorizem o seu trabalho, e permite também que os fotógrafos possam apoiar organizações e causas que trabalham para a preservação da vida selvagem e dos habitats.
RECONHECER O NOSSO VALOR
Valorizar e vender fotografias de vida selvagem não é apenas uma questão de reconhecer o valor do nosso próprio trabalho, mas também de promover a conservação e proteção da natureza. Quando os fotógrafos são devidamente compensados pelo seu trabalho, eles têm mais recursos para investir em equipamentos de alta qualidade, podem realizar viagens para outros locais e permite que eles aprendam mais sobre as espécies a fotografar, o que, por sua vez, resulta em fotografias ainda mais impressionantes e impactantes. Além disso, ao vender suas fotografias, os fotógrafos têm a oportunidade de educar o público sobre a importância da conservação da vida selvagem. Cada imagem vendida pode ser uma oportunidade para partilhar histórias sobre os desafios enfrentados pelos animais selvagens e as ameaças que enfrentam no seu habitat natural. Isto ajuda a criar uma conexão mais profunda entre as pessoas e a natureza, inspirando ações para proteger e preservar nosso mundo natural para as gerações futuras. No caso dos fotógrafos amadores, ou aqueles que não podem passar uma fatura, e deste forma venderem as suas fotografias. Devem adotar uma postura mais comercial, recusando-se a oferecer a fotografia e sugerindo algum fotógrafo profissional que conheçam. Valorizando assim o trabalho dos colegas de profissão. Permitindo ao mesmo tempo o crescimento da indústria da fotografia de vida selvagem.
Por fim, é essencial que os fotógrafos de vida selvagem reconheçam o valor de seu trabalho e se recusem a ceder à tentação de oferecer as suas fotografias gratuitamente. Ao vender as suas fotografias, vão conseguir não só sustentar a vossa própria paixão e carreira, mas também contribuir para a proteção e conservação da vida selvagem em todo o mundo. Portanto, da próxima vez que se depararem com uma fotografia impressionante de vida selvagem, lembrem-se do trabalho árduo e dedicação por trás dela, e considerem apoiar o fotógrafo adquirindo uma cópia da sua obra ou algum produto resultante dessas fotografias, seja um calendário, um livro ou uma formação.
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